Diariamente abre-se o guarda-roupa! Após muito avaliar, seleciona-se o traje, fecha a porta e segue-se para as tarefas do dia. Vez ou outra dá-se um estalo e decide-se operar uma faxina no móvel, especialmente quando se depara que não há mais espaço para roupa nova. E descobrem-se inúmeras peças que ocupam espaço sem a menor possibilidade de serem utilizadas, porque ou estão fora de moda ou não acompanham a evolução do manequim! Fato é que se reconhece a necessidade de operar regularmente essa revisão caso se pretenda acompanhar a evolução da moda.
A vida da oração demanda o mesmo procedimento. Enquanto a mente anda cheia de imaginações e o coração repleto de sentimentos fica difícil orar com a devida concentração. Flagra-se, não raramente, divagando na hora da prece. As distrações sucedem-se sem controle e sente-se a falta de maior aplicação. A ausência de foco é um dos males maiores do atual tempo, condicionada que esta a pessoa às ferramentas digitais. Sutilmente introduziu-se uma fictícia urgência de se estar permanentemente conectado, sujeitando-se à distrações pelos constantes e, na maioria das vezes, fúteis comunicados. Está fácil demais distrair-se. ]
Urge operar aplicada faxina em ilusórias urgências e alienantes imaginações, pois sem silêncio interior é praticamente impossível orar com proveito. Requer-se coragem e aplicação para realizar essa purificação mental e emocional. Os místicos lembram que assim como é preciso esvaziar um copo cheio de água turva para colocar água pura, da mesma forma é preciso filtrar a consciência de preocupações e fantasias, caso se queira estabelecer com Deus diálogo íntimo e proveitoso.
A oração, afinal, é essencialmente encontro íntimo e afetuoso, olho no olho, entre Criador e criatura. Ora-se como imperativo de afeto. Jesus é o sublime mestre na prática da oração. Cedo levantava-se e buscava lugares desertos para poder viver a experiência de afetuoso encontro com o Pai amado. Orar, essencialmente, é partilhar com Deus vida e projetos, êxitos e falhas, angústias e alegrias, na plena convicção de estar sendo ouvido e orientado. Ora, este nível de partilha demanda exclusividade, exterior e interior. A compenetração na vida de oração reflete-se naturalmente na concentração em outras atividades, premissa indispensável para realizações de qualidade.
Urge distinguir oração de rezas! Fórmulas, devoções e outras práticas piedosas são recomendáveis como preparatórios ao encontro mais íntimo com o Criador. Reduzida a rezas a oração não passa de prática ritual que serve mais para acalmar a consciência que para estabelecer íntimo diálogo com o Pai Eterno. Na maioria das vezes rezas não passam de monólogos, expondo necessidades e cantando louvores, sem reservar espaço para captar as reações divinas. Sabiamente, o Senhor Jesus alertava com insistência que a multiplicação de palavras transforma as orações em ritual pagão, desprovido da autêntica fé! Aflige reparar a excessiva dependência de amuletos religiosos, considerados reforços indispensáveis de devoção. Olvida-se que é o coração que Deus olha. É ali, no segredo do coração que acontece o verdadeiro culto. Encontros de amor dispensam palavras e adereços! Orar é revigorar-se em Deus!
A oração, quando genuína, restaura vidas. A legítima oração desapropria do ego, ensinam os místicos. À semelhança do guarda-roupas que requer regulares revisões, a genuína oração, o encontro olho no olho com Deus, depende de preliminares e regulares podas de ruídos e fantasias.