“Um peregrino em solo islâmico”! A visita do Papa Francisco a Iraque induz o mundo a voltar a olhar para a situação dos cristãos naquele país, destruído por um regime fundamentalista islâmico, ora, felizmente, banido, mas que, enquanto governava, os perseguia com implacável ferocidade. Desconhece o mundo, inclusive as comunidades cristãs, seu sofrimento, sua história, sua luta para sobreviver. É preciso que o mundo conheça as atrocidades praticadas pelo brutal regime do Chalifado (ISIS) contra os cristãos. Houve uma época quando o mundo tomava conhecimento das aflições da minoria cristã. Passado o tempo, a perseguição voltou a ser esquecida. Esperam os cristãos que a presença do Papa recoloque equilíbrio no país. Houve períodos, antes da invasão dos Estados Unidos, em 2003, quando os cristãos podiam circular livremente numa região de maioria muçulmana, sem serem molestados.
Quando, porém, o regime fundamentalista DAESH tomou o poder tudo mudou para o pior. Famílias foram obrigadas a abandonar suas terras, casas demolidas. Igrejas foram saqueadas e arrasadas. Se não fosse a ajuda vinda do Vaticano, a população não teria como se reerguer quando retornou do exílio em 2016, época quando o regime autoritário foi derrotado pelo governo do Iraq. A visita do Papa anima os cristãos que tinham fugido a retornarem às suas cidades. O regime fundamentalista arrasou terras, saqueou casas, destruiu igrejas, mas não foi capaz de sufocar a esperança. Aos poucos, os cristãos estão reconstruindo igrejas, abrindo escolas, acolhendo de volta famílias refugiadas.
Ao celebrar a missa no estádio de Irbil, o Papa Francisco lembrou os fiéis cristãos que, mesmo ainda marcados pelas doídas cicatrizes do tempo da dura perseguição, não devem guardar sentimentos de rancor e vingança. Muitos lembram familiares e amigos que sofreram crueldades e foram mortos por ferozes opositores. O natural impulso instiga reagir com igual violência. Assim agindo, alimentam mais ressentimentos, deturpam humanitários sentimentos. Jesus conclama a servir, apela para curar, insiste no perdoar, exalta o amar. Assim como purificou o Templo de Jerusalém de uma liturgia contaminada, Jesus quer purificar corações, devolver harmonia e equilíbrio à existência.
Tarefa esta que demanda determinação e esforço para superar obtusas mentalidades de divisão, oposição e intolerância que tantas distâncias criam entre famílias e grupos. Urge edificar uma sociedade acolhedora onde todos possam sentir-se e agir como irmãs e irmãos. É preciso que se convença que terrorismo e intolerância não prevalecerão! Em resposta aos apelos do Papa, uma moradora, Doha Sabah Adallah, testemunhou, em seu agradecimento, que embora tenha perdido filhos e outros parentes nas mãos dos terroristas, ela luta para banir do coração todo sentimento de retaliação. É preciso que nós cristãos testemunhemos que o amor é maior que tudo, finalizou ela!
A presença do Papa no Iraque anima a comunidade cristã naquele país. Duramente perseguidos, os cristãos precisavam fugir. Começam, agora, a retornar às suas origens culturais e religiosas. Reconhecem que sua presença faz bem ao país, coopera para solidificar o equilíbrio. Emocionado, um desses refugiados que volta a se instalar na região, confidenciou: somos poucos, mas estamos aqui! E repetiu as ultimas frases da homilia do Papa: Se Deus é vida – e ele é – então está errado matar em nome dele! Se Deus é paz – e ele é – então está errado criar conflitos em nome dele! Se Deus é amor – e ele é – então errado está agir com intolerância, em nome dele!