Por padre Charles Borg
Preconceitos são desastrosos! Fixa o preconceituoso na mente determinado conceito e transforma essa ideia em verdade absoluta. É comum essa ideia fixa surgir de uma desconfiança, de uma antipatia gratuita ou de posicionamento doutrinário de viés fundamentalista. Instala-se o preconceito, abraçado como verdade absoluta e inconteste. La se vai, em seguida, colando etiquetas arbitrárias e precipitadas em pessoas ou grupos, manchando reputações e turvando relacionamentos. Quando não, implodindo sumariamente qualquer possibilidade de contato.
O apego a esses preconceitos pode alcançar tal gravidade, a ponto de a pessoa se recusar terminantemente a considerar a possibilidade de existir outra leitura fora da sua. As nefastas consequências desse doentio procedimento são facilmente dedutíveis! Fixações cegam! Abrem fossos intransponíveis. Obsessões travam qualquer possibilidade de diálogo.
Quando, então, se compartilham esses preconceitos, denuncia-se sutil sádico viés, e satisfação, em ver o suposto desafeto destruído. Amplia-se o estrago ao induzir mais gente ao erro. Olhar atento para a presente realidade aponta um recrudescimento dessa perversa epidemia de preconceitos, contaminando progressivamente o convívio entre pessoas e entre vários setores da vida civil. A verdade fica refém de leituras tendenciosas. O preconceito impede avaliar com objetividade e serenidade pessoas e situações.
Textos, conversas e posturas ficam arbitrariamente distorcidos, com previsíveis danos à verdade objetiva e à honestidade das pessoas. Obstinado, o preconceituoso não admite a possibilidade de erro, e impede, agindo assim, reais possibilidades de alargar horizontes e de enxergar pessoas e situações a partir de neutros prismas. Fixações reduzem o obtuso à condição de escravo, dominado por uma concepção distorcida, e com potencialidade para alterar situações e inventar declaração.
Explica-se a intolerância que se difunde rapidamente na atual sociedade. Emerge um paradoxo tenso a caracterizar a atual cultura: ao mesmo tempo em que se defende a pluralidade de opiniões, multiplicam-se atitudes de intransigente intolerância. Reivindica-se o direito de ser e de agir segundo determinado padrão, mas ataca-se sem piedade quem porventura se apresenta diferente.
A pretensão de posar como dono da verdade induz o presunçoso a desqualificar o contrário. Obstinado não consegue sequer ouvir e entender posições diferentes! Cego e surdo, fechado em sua verdade, o preconceituoso distorce fatos e diálogos. Nesse cenário, conflitos ficam previsíveis e inevitáveis, minando progressivamente qualquer possibilidade de convívio decente e harmonioso.
Saber ouvir representa o primeiro e fundamental passo para superar preconceitos. Santo Agostinho lembra uma doméstica estratégia útil para corrigir essa desordem. Sempre que se pretende beber água pura cuida-se primeiro de limpar o copo. Quem deseja honestamente conhecer a verdade sobre pessoas e fatos, deve, primeiro, cuidar de verificar a pureza da consciência.
Admitir a possibilidade de o entendimento estar desfocado é postura de corajosa hombridade. Reconhecer a real possibilidade de a verdade ser mais ampla do que se imagina é postura de amadurecida humildade. E a humildade é a virtude por excelência neste tempo de Natal! UM FELIZ NATAL!