Ternura, artigo do padre Charles Borg

Não há vida decente sem ternura! A afirmativa é atribuída ao imortal Charles Chaplin, considerado o mais cristão entre os agnósticos, tantas são as inspirações bíblicas em seus filmes e escritos. Não é tão raro encontrar pessoas que questionam a ternura, pois a consideram uma fraqueza. Identificada com o jeito feminino de ser, a meiguice é ardorosamente combatida por algumas lideranças feministas por julgarem que o atributo alimente a submissão da mulher. Patrocinam campanhas para imunizar as “meninas” contra tal jeito de ser, orientando-as a serem duras na vida. Confundem independência com aspereza, personalidade com rispidez. O atual contexto social, marcado por grosserias e covardes agressões, especialmente contra mulheres, parece dar razão à adoção do comportamento indócil. A ternura tornaria qualquer cidadão – cidadã, em especial – mais vulnerável num mundo que enaltece a brutalidade arbitrária. Muitos, e muitas, em especial, aderem à tese da aspereza no trato e adotam a doutrina da rispidez no convívio.
Em seu conceito original, ternura nada tem a ver com resignação. Muito menos com submissão! Ternura corresponde à virtude evangélica da mansidão, elevada pelo próprio Mestre Jesus à condição de beatitude, propriedade que enobrece a alma humana. Estudos comportamentais identificam a doçura com coragem sem agressividade, firmeza sem aspereza, carinho isento de interesse! Deduz-se que a virtude da ternura nada tem de negativo. A meiguice, em sua vivência autentica, não rebaixa a autoestima. Nem torna a pessoa manipulável. Ao contrário, reveste a alma com peculiar sabedoria e fina valentia. Sensibilizada diante das diversas arbitrariedades e inconformada com as cruéis injustiças, a pessoa genuinamente terna tem consciência que não pode ficar neutra. Resoluta, toma posição. Verdades precisam ser ditas. Abusos precisam ser denunciados. Consciências necessitam ser despertadas. Erros precisam ser corrigidos. Ambiguidades de comportamento necessitam ser ajustadas. A genuína ternura não compactua com o vício. Nem finge indiferença. Age, contudo, com discernimento, não sob impulso. Sabe esperar a hora certa para falar e agir. Ao falar, preserva o cuidado de usar as palavras certas. Adota o modo correto de tratar o outro. Sabe ser incisiva sem humilhar. Sabe ser firme sem fazer concessões. Repousa sua valentia na consistência de suas verdades e na coerência de seus argumentos. Prudente, não tem receio de esperar, pois sabe que, também na hora certa, os resultados infalivelmente aparecem.
Somente gente grande sabe ser valente sem jamais perder a ternura. A história recente presenteia a humanidade com figuras do porte de Charles Chaplin, Maximiliano Kolbe, Gandhi, Martin Luther King, Mandela, Dorothy Day, Cardeal VanThuen, Nadia Murad, entre outros! A seu modo, e de acordo com as peculiares circunstâncias de suas épocas e contextos, cada uma dessas figuras lutou contra arbitrariedades, denunciou injustiças, combateu abusos. Nenhuma delas pode ser classificada de fraca porque optou agir com mansidão! Sem ultrapassar os limites do respeito pelo adversário, sem descurar da educação no trato com o oponente, cada uma delas deixa para o mundo o fundamental e precioso legado: não há convívio digno entre pessoas sem ternura!

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