Belos, tema do artigo do padre Charles Borg

“O corpo é meu”!
“Isto é meu corpo”!
O sentido das afirmativas parece idêntico. Difere tão somente na construção das sentenças. Colocadas, todavia, em seu contexto, as frases adquirem significado bem diverso. A primeira sentença costuma estar na boca dos integrantes do movimento feminista reivindicando, entre outros, o direto ao aborto. Considerando-se donas absolutas do próprio físico outorgam a si mesmas o direito de dispor do feto abrigado em seu ventre.
O espaço planejado para ser o local mais sagrado e seguro na formação de uma vida, passa a ser o abrigo mais vulnerável. Questão moral à parte, indaga-se ate que ponto uma pessoa pode-se julgar tão dona do próprio corpo a ponto de dispor-se dele a seu bel prazer, sem dar satisfação a ninguém. A praxe usual estabelecida mundialmente afirma que o direito de um termina onde começa o direito do outro. Esta regra fica evidente na questão do fumo. Não se é permitido fumar em ambientes fechados porque a fumaça, além de incomodar terceiros, pode também provocar danos à saúde de quem a inala. E ninguém reclama o direito de fumar em ambientes fechados alegando a faculdade de dispor-se do próprio corpo como bem entende.
No quesito aborto, a crucial questão gira em torno do fato de considerar o feto como parte integral do corpo feminino. Estudiosos muitos, e de respeito, afirmam categoricamente ser o feto um ser independente do corpo feminino. É um indivíduo distinto, já com particularidades próprias desde o momento da concepção, no ventre abrigado não por imposição, mas como consequência natural de um ato praticado pela mãe. Sendo, então, um corpo distinto, não pode ser simplesmente identificado com o corpo que o abriga.
Ao reclamar o direito de dispor-se do próprio corpo como bem entender, a pessoa ignora os direitos do ser vivo – e indefeso – que abriga em seu ventre, colocando-se a si mesma como o único referencial de seus atos. Insiste-se, toda decisão humana implica ressonâncias coletivas. Nenhum ato humano é exclusivamente subjetivo. Vale, então, avaliar os repiques coletivos de arbitrárias determinações.
A segunda frase, dita por Jesus Cristo em contexto dramático de sua passagem pela terra, expõe visão totalmente altruísta sobre a dimensão do corpo. A frase completa afirma: isto é meu corpo doado por vocês! Para Jesus, a existência só alcança sentido pleno quando posta a serviço do semelhante. Nesta perspectiva, regula as decisões não o interesse particular e subjetivo, mas o bem estar coletivo. A encarnação do Filho de Deus é exemplarmente instrutiva! Pautada pela caridade evangélica, a existência humana é prioritariamente altruísta. Nesta ótica, o corpo é igualmente compreendido e “usado” em beneficio do semelhante.
A ponto de se estar pronto a renunciar às próprias vantagens se for para beneficiar o coletivo. Ao insistir que suas palavras fossem celebradas em sua memória, o Senhor Jesus Cristo expressa clara intenção que seus seguidores, ao comungarem seu corpo doado, igualmente colocassem a disposição de seus irmãos suas faculdades, tanto corporais como espirituais. Incalculável salto de qualidade se daria no mundo se, de fato, todo fiel que comunga o corpo de Cristo assume colocar seu próprio corpo, sua própria vida, como doação ao próximo!
A estima pelo próprio corpo inspira reverência pelo corpo alheio. Abençoados e belos são os corpos postos a serviço do bem e da vida!

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