Bandeira, por padre Charles Borg

Melhor defesa é o ataque! Este conhecido jargão do mundo da bola está sendo aplicado, literalmente, em várias situações do atual cotidiano. São frequentes as agressões contra adversários, seja qual for o campo de atuação. A mentalidade intolerante se espalha com espantosa rapidez e crescente ruído. Impaciência e irritação, mesmo diante de banalidades, são reações difusas e evidentes. Até crianças andam nervosinhas! A sociedade está ficando cada vez mais polarizada. Parece que meio-termo deixou de existir. Equilíbrio e ponderação são artigos escassos nas prateleiras comportamentais do cotidiano.

Quem não veste a cor “x” é porque pertence ao grupo “y”. Portanto, que seja considerado adversário e, consequentemente, insultado. Em um contexto marcadamente fatiado, nem se cogita verificar a correção da avaliação ou a procedência da informação. Parte-se logo para o ataque, sem “perder tempo” para ouvir a posição contrária e avaliar seus argumentos. Na excitação do confronto, recorre-se ao patrulhamento das redes sociais para desqualificar adversários. Especialmente poderosas e letais são essas armas virtuais. Em tempo real, mensagens são disparadas em várias plataformas espalhando informações ambíguas, disseminando calunias, destruindo reputações. Ruidosas e insistentes, as plataformas não permitem averiguações, condicionam mentes e alimentam ressentimentos.

Não raramente induzindo ao ódio! Fomentam guerrilhas, virtuais ou mesmo físicas, contra quem ousa pensar diferente ou seguir orientações diversas. Caminha celeremente a sociedade para o regime de tolerância zero. Ambicioso projeto de prepotentes e autoritários.

O absurdo deste paranoico contexto salta espontaneamente. O clima de contínuo fatiamento corrói o elementar impulso de convívio social. Não é possível conviver harmoniosamente quando o compasso é de difusa irritabilidade. Esta situação de perpetua tensão contraria o sentido humanitário da existência. Sensível ao profundo anelo da alma humana de cultivar condições favoráveis para um convívio fraterno e harmonioso entre os cidadãos, a Campanha da Fraternidade deste ano, 2021, convoca pessoas de boa vontade – cristãos ou seculares – a redescobrirem o diálogo e a compreensão como preciosos recursos de suporte.

O venturoso contexto ecumênico da Campanha já se apresenta como valioso estímulo. O belo exemplo de várias denominações cristãs olharem para além de suas diferenças doutrinárias e litúrgicas e encontrarem verdades convergentes capazes de as unir em esforço conjunto para promover harmonioso convívio entre os cidadãos representa, por si só, valioso testemunho quanto à real possibilidade de conviver pacificamente, respeitando diferenças e conservando identidades.

Causa espanto as críticas contra essa formidável iniciativa ecumênica. O fato de serem diferentes não significa que as igrejas são adversárias, mormente quando se compenetra que todas as denominações cristãs professam seguir Jesus Cristo, fonte de paz, que abraçou como tarefa primordial aproximar pessoas. Unir os diferentes. Já foi o tempo de conflitos por causa de dogmáticos contraditórios! Por se inspirarem no exemplo e no ensinamento do Senhor Jesus, as lideranças cristãs apelam para a sociedade investir em criar pontes e derrubar muros que fomentam desconfianças e acirram rivalidades. Insistem as lideranças cristãs ser possível conviver harmoniosamente, aprendendo a respeitar diferenças, ouvindo quem pensa diferente e dialogando em busca de entendimento.

Com ataques não se promove a paz! A paz tão almejada só se constrói com diálogo, com compreensão, com respeito. É a bandeira do Evangelho! Inestimável contributo este que os cristãos oferecem a uma sociedade esgarçada por confrontos, intolerâncias, ódios. Indevidas, sinceramente, as censuras contra a Campanha da Fraternidade, 2021. União nunca significa uniformidade. Ouvir não é consentir! Quem pensa diferente não é inimigo. Apenas é diferente, com real potencial para enriquecer entendimentos e ampliar horizontes. Triste jardim de uma só espécie de flor!

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