Credenciamento, artigo do padre Charles Borg

“A Eucaristia faz a Igreja”! A confissão é de uma jovem romeira que atualmente integra a peregrinação que se realiza nos Estados Unidos em preparação para o Congresso Eucarístico a ser realizado naquele país neste mês de julho. O interessante, e o particularmente especial na declaração, é o fato de expressar o sentimento de uma jovem protestante que decidiu participar da romaria como preparação próxima ao seu ingresso na Igreja Católica e, consequentemente, à celebração da sua primeira eucaristia.

Trata-se de comovente depoimento de uma jovem que, viciada em drogas, procurou ajuda numa casa de recuperação protestante. Curada, decidiu permanecer na instituição, disposta a oferecer ajuda e apoio a outros jovens em recuperação. Participante de cultos, percebia, todavia, que lhe faltava algo que preenchesse sua experiência religiosa. Em uma casual conversa com um padre católico, abordou-se o tópico da Eucaristia. Interessou-se pelo assunto e decidiu conhecer melhor a doutrina da Igreja Católica. Junto com outros adultos, participa hoje de um itinerário catequético apesar, como candidamente confessa, de receios e incertezas.

Curiosamente, por conta de suas indagações, optou participar da peregrinação. Interpelada por seus amigos protestantes acerca da conveniência de participar da caminhada respondeu francamente que pretendia verificar se aquela peregrinação representava mesmo um caminhar com Jesus! Se Jesus está realmente presente na Eucaristia, certamente, faria grandes coisas, como fez enquanto andava pela palestina. Sua intuição não falhou.

Testemunha hoje, com emoção, que a mais impactante descoberta que está experimentando é vir a compreender o que é Igreja, a comunhão de tanta gente diversa em torno da presença real do Senhor Jesus Cristo na Eucaristia. Somente o amor, de Jesus e por Jesus, é capaz de reunir tantas pessoas heterogêneas em torno de uma mesma mesa, para ouvir a mesma Palavra e alimentar-se como o mesmo alimento divino, o próprio Corpo e Sangue de Cristo! Somente uma fé viva e um amor apaixonado por Jesus são capazes de reunir tantas pessoas, com diferentes idades e variedade de ideias, a caminhar de doze a desaseis quilômetros por dia, sem noção onde se vai parar ou como se vai dormir. Sinto-me igual, confessa, aos discípulos de Jesus que andavam com ele sem saber onde parariam, o que comeriam e onde pousariam. Importante é estar na companhia do Senhor!

A Eucaristia está ajudando a me aproximar de tanta gente. O desejo de progredir na condição de discípulo de Jesus aproxima pessoas, faz brotar amizades. Entendo que celebrar a Eucaristia é justamente isto, cultivar comunhão, emenda a jovem. Afinal, não se pode estar em comunhão com Jesus sem estar unido aos irmãos. Por conta do trabalho, a jovem precisa largar, pontualmente, a romaria. Percebe, todavia, que o afastamento lhe oferece a oportunidade de testemunhar sua fé em Jesus eucarístico. Repara como desempenha suas obrigações com alegria e com mais atenção. Atende pessoas em recuperação. Muitos carregam terrível sentimento de culpa. Reconhece-se estar em condições, não tanto pela retórica, mas pela ternura que transborda naturalmente do coração, de assegurar a esses infelizes que existe esperança na vida. O brilho nos olhos convence-os do perdão de Jesus, da possibilidade real de um recomeço. Tudo é possível quando se tem um propósito. Tudo é possível quando se tem, a seu lado, um amigo que se chama Jesus!

“Posso segurar sua mão?”, pedem alguns de meus pacientes. “Claro, eu também estou em recuperação, caminho junto com você”! Este é o milagre maior da Eucaristia, confessa a jovem, aproxima pessoas num mundo tão dilacerado por divisões, preconceitos e ódios e as convence que é possível caminhar juntos, mesmo sendo diversos. Confessa a jovem que a decisão de participar da peregrinação representa não somente a mais sábia decisão de sua vida, como também configura o ideal credenciamento para ela celebrar sua primeira eucaristia!

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