Magia, artigo do padre Charles Borg

Prazeroso é decorar! Caprichar no embelezamento de ambientes, estudar distribuições de adornos e preparar arranjos para abrilhantar eventos cria saudável e alegre antecipações em torno de determinados eventos. Arranjos e adereços contribuem decididamente para criar o desejado clima envolvendo datas e acontecimentos. Afinal, a mídia comunica a mensagem. Acompanha-se, atualmente, a profusão de decorações natalinas.
É verdade que alguns estabelecimentos comerciais preparam seu cenário natalino com exagerada antecedência. Igual pressa se percebe em algumas residências. Transparece a impressão que se quer apressar a chegada desses tempos festivos. Detecta-se certa impaciência diante da enervante demora da chegada das festas de fim de ano. Na realidade, tal pressa denuncia atual e difusa tendência de comportamento. Não se sabe mais aquietar-se. Não se tem mais paciência de esperar por resultados. É tudo para ontem. Quer se chegar logo ao fim. Como o cronômetro não admite sujeitar-se a este compasso acelerado, a decoração natalina torna-se enfadonha antes da hora.
Quando, enfim, a efeméride acontece, gasta fica a ornamentação e desbotado o verde dos falsificados pinheiros. Emerge, ainda, nesta crônica impaciência, fator outro a distinguir o compasso da sociedade moderna: a ansiedade para a próxima atração. Mal acaba uma comemoração, já se começa a programar o próximo evento. Cronicamente inquietas, as pessoas não conseguem desfrutar satisfatoriamente dos presentes festejos! A dispersão e a superficialidade impedem degustar plenamente o evento celebrado. No dizer de um antigo místico, a pressa de chegar ao destino impede ao acelerado viajante apreciar a paisagem!
Longe de ser uma controvérsia bizantina, escolher bem o tempo, o compasso e o formato da decoração natalina contribui decisivamente para indicar o sentido e definir o propósito da celebração. O conjunto dos arranjos externa o sentido primário que se dá ao evento. O Natal celebra o mistério da entrada do Filho de Deus na história da humanidade. Jesus, o Filho Eterno do Pai, encarnou-se com o objetivo de restaurar a humanidade e lhe devolver a original dignidade. Com sua natividade, Jesus trouxe luz a um mundo tomado por sombras. Trouxe um projeto de paz a um mundo conturbado por intermináveis conflitos. O conjunto da decoração natalina se propõe a criar e provocar este clima de esperança.
Liturgicamente, a celebração de Natal é precedida pelo tempo do Advento. Este tempo litúrgico destaca, em seus primeiros dois domingos, a vinda de Jesus no fim dos tempos, quando então se dará a realização definitiva do Reino de justiça e de paz. Somente nos últimos dois domingos que precedem o Natal é que a catequese litúrgica foca o mistério do nascimento em Belém. Seria este, portanto, o período indicado para iniciar a decoração de igrejas e residências para a festividade natalina.
Por uma óbvia ilação, o destaque na ornamentação natalina deve ser a cena da natividade, com a riqueza de símbolos e alegorias que a acompanham. A imagem do Menino Jesus, como também o presépio, devem atrair a atenção, provocar curiosidade, admiração e reflexão, em especial em ambientes frequentados por crianças. Há muito mais encanto na dimensão religiosa do que na profana. Esta é sempre passageira e artificial, aquela é perene e educativa.
A natalina decoração, executada no tempo adequado, no compasso certo e com a criatividade voltada para o transcendente, pavimenta o caminho para a finalidade primária da sua arte, contemplar o mistério do nascimento divino. Frustrante e dispersiva será a decoração natalina se não enleva a alma. O belo fascina o espírito. A singela simplicidade aquieta a imaginação. A magia, enfim, arrebata a alma!

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