Manifesto, artigo do padre Charles Borg

Quem dera tivesse o país mais ministros terrivelmente evangélicos! Mais executivos, terrivelmente evangélicos! Mais servidores públicos, terrivelmente evangélicos! A situação da nação, com certeza, melhoraria consideravelmente!

Urge, claro, definir o sentido das palavras. Entende-se por “terrivelmente” um sujeito incondicionalmente configurado pelos valores anunciados por nosso Senhor Jesus Cristo. À semelhança de Maria e José que aceitaram a missão de serem mãe, e pai adotivo, do Filho de Deus, sem fazer concessões nem arranjos. Sintonia total com a vontade de Deus! Com o termo “evangélico”, compreende-se o profetismo da esperança embutido na boa notícia de redenção encarnada pelo Mestre de Nazaré, tendo como referência a justiça e como motivação o amor fraterno!

Pois, lamentavelmente, o termo “evangélico”, na atual cultura, designa mais uma ideologia que opção religiosa. Associa-se o termo “evangélicos”, àquele segmento da população que confessa o credo protestante ou, mais precisamente, o neopentecostal, como se o católico, por exemplo, não seguisse ele também os valores do Evangelho de Cristo. Ao torcer para que houvesse mais homens públicos “terrivelmente evangélicos”, anseia-se por cidadãos que, em suas deliberações e escolhas, se pautam por valores genuinamente humanos, pois não existe nada mais humano que os preceitos evangélicos.

Ninguém mais que Jesus Cristo foi “terrivelmente evangélico”. Quando surgiu a oportunidade de ele especificar sua identidade, na sinagoga de Nazaré, inspirou-se no profeta Isaias, que definiu o ungido de Deus como o escolhido que sai fazendo o bem por onde andasse. Ser evangélico, no sentido bíblico da palavra, indica pessoas que marcam presença não tanto em templos, mas nas ruas, identificadas não por rituais, mas pela genuína caridade. Quem se pauta por valores genuinamente evangélicos empenha-se em elevar o nível de vida de cada cidadão, distanciando-se de rótulos e recusando qualquer indício de cooptação.

Na condição de servidor do semelhante, pois servir e não ser servido representa um dos princípios fundamentais a reger a vida do discípulo de Jesus Cristo, o homem público terrivelmente evangélico dispõe-se a colocar os interesses dos cidadãos a frente dos próprios interesses imediatos e carreiristas. Somente quem tem fome e sede de justiça pode se considerar bem-aventurado, segundo os padrões do Evangelho! À semelhança de Jesus, o Evangelho encarnado, o homem público “terrivelmente evangélico” percebe-se irresistível e interiormente interpelado pela realidade sofrida por milhões de cidadãos. Cristo, o Evangelho vivo, mergulhou na realidade cruel do seu tempo com o intuito de curar o ser humano e lhe restituir sua original dignidade. Represado por ideologias e confinado em templos, o Evangelho perde brilho. Engessado em fórmulas e reduzido a códigos de comportamento, o Evangelho perde a aura de novidade boa, prenhe de esperança e se transforma em peça de museu.

Calar diante de desigualdades escandalosas, ignorar clamores desesperados por vida e dignidade, representa tremendo desserviço ao Evangelho de Jesus Cristo! Justo Ele que veio para garantir vida em abundância para todas as pessoas. Manipulado e distorcido, o Evangelho facilmente é transformado em ideologia, escola de intolerância, regime de seleção e exclusão. Proselitismo daninho! Sectarismo estéril! Justamente os desvios mais combatidos pelo profeta de Nazaré! Naquele memorável dia, em sua cidade natal, o Filho de Maria, proclamou solenemente o manifesto para quem deseja ser conhecido e visto como “terrivelmente evangélico”.

Feliz o povo que teme o Senhor e pauta sua conduta pelos princípios divinos. Muito lucra a nação se houvesse mais agentes públicos genuinamente evangélicos. Pouco importa a denominação confessional. Vale mesmo é a interior inspiração no manifesto de justiça, de humanidade, de misericórdia. De caridade, enfim, proclamado na sinagoga de Nazaré!

2 Comentários

  • Excelente artigo. Padre Charles como sempre muito.

  • Excelente artigo. Padre Charles como sempre muito didático.

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