Pedagogos na fé, artigo do padre Charles Borg

Curiosas são as crianças. Levantamentos feitos em laboratórios de psicologia infantil asseguram que uma criança normal faz, ao longo do dia, mais de setenta (70) perguntas, abrangendo os mais variados tópicos. Criança investiga. E sua curiosidade é alimentada pela capacidade de admirar o que acontece em volta. Ela quer conhecer o que lhe origina admiração! Curiosidade, admiração, questionamentos, sequência clássica de sólida aprendizagem.

Adaptar-se a esta logística apresenta-se, por sua vez, como ingente desafio para pais e educadores. Normalmente ocupados com variadas tarefas, nem sempre encontram tempo e paciência para atender às intermináveis perguntas infantis. Abortando essa logística, pais e educadores atrofiam o processo de aprendizagem. Respostas corretas e precisas ajudam as crianças a desenvolver conceitos, vocabulário e aptidões. Alargam, por óbvio, o horizonte de conhecimentos. Intui-se que a chave de consistente amadurecimento repousa em alguns pressupostos básicos: curiosidade, respostas corretas e capacidade de adaptação à realidade.

Estes básicos pressupostas em vista de uma formação humana sólida aplicam-se, igualmente, à formação religiosa. Da mesma maneira que andam cheias de curiosidades com relação ao mundo natural, as crianças carregam igualmente um baú de perguntas a respeito de assuntos religiosos. Querem saber o sentido de tudo. Estão cheias de por quês e para quês. Assim como no processo natural, o desenvolvimento consistente depende de respostas corretas e precisas, no amadurecimento religioso a solidez da fé depende de diálogos objetivos, subsidiados por uma prática religiosa convicta.

Religião não é doutrina. Fundamentalmente, é vivência! Objetiva análise da realidade aponta sérias lacunas neste quesito. Toma-se por referência o alto índice de ‘abandono de religião’ verificado entre os jovens, particularmente entre os que avançam em estudos acadêmicos. Enquanto dependentes, acompanhavam os pais na observância religiosa. Confrontados, em novo ambiente e sem a tutela familiar, acerca de algumas verdades religiosas, muitos jovens veem-se confusos. Reconhecem-se incapazes de apresentar respostas consistentes, inclusive para si. Desprovidos de convincentes argumentos, recusam desempenhar papel de figurantes. Abandonam a fé.

Faltou-lhes na educação familiar abordagem genuinamente madura. Aprenderam dogmas e costumes, devoções e obrigações, mas faltou o essencial, desenvolver a fé na dimensão de experiência pessoal com Jesus Cristo, que tanto amou, a ponto de dar a vida para a todos reerguer. Um Cristo vivo e presente na vida de cada pessoa e de cada comunidade cristã, familiar inclusive. Estar convicto na fé não significa ter resposta pronta a todas as perguntas e desafios. Crer significa crescer na comunhão com este Jesus vivo. Aprender a amar o que ele ama e como ele ama! Esta é a essência da religião. Religião não é enciclopédia. Pais cristãos não precisam ser teólogos formados!

Mas é imprescindível que sejam pedagogos, dispostos a avançar com os filhos na jornada da caridade, fraterna, genuína e transcendente. Iniciam-nos, nesta condição, na leitura assídua e meditada da Sagrada Escritura. Neles infundem a importância da oração, preciosa pausa para respirar e revigorar-se. Habituam-nos, por fim, a viver a liturgia, não como imposição legal ou pontual, mas como feliz oportunidade de compartilhar a fé. Não se é cristão isolado! É-se cristão porque integrado ao vasto contingente de discípulos do Senhor! E o que faz bem ao irmão faz, igualmente, bem a si!

O lar é a primeira sala de catequese, providencial espaço para curiosidades e indagações. É compreensível que os pais não tenham respostas prontas para todas as curiosidades religiosas. Cristãos conscientes, porém, saberão responder, com o convicto testemunho de suas vidas, à curiosidade fundamental: somente tendo fé em Deus e seguindo com fidelidade a Jesus Cristo é que o ser humano se transforma em gente, sujeito íntegro e cidadão do bem! Somente a fé em Deus assegura sentido pleno à existência! E, afinal, a realização dos filhos é o bem maior que pais almejam! Se não tiverem fé igual a da criança – curiosa e reverente – não entrarão no reino dos céus!

FELIZ DIA DA CRIANÇA!

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