Sagrado ideal, artigo do padre Charles Borg em homenagem a todos os educadores

Ensinar é como pregar! Ao preparar a homilia, o padre administra delicado desafio. As leituras bíblicas representam seu ponto de partida e inicial inspiração. Ao elaborar sua reflexão, todavia, o padre pode querer pautar-se por temas que ele julga interessantes, mas que não o são para o seu auditório. Essa ausência de empatia torna as homilias, frequentemente, enfadonhas.

Igualmente cansativa fica a instrução religiosa quando recheada de tópicos distintos. É tanta informação que a assembleia não consegue se concentrar em nenhum assunto. Quando, então, se usa uma linguagem mais escolar, os canais de comunicação entram em pane! Entre os possíveis tópicos, o padre precisa saber escolher um, que seja, de fato, de interesse e proveito da comunidade e concentrar nele energias e didática. Preferível é sair da missa com uma lição clara que com vários tópicos desconexos.

Em sala de aula, o professor enfrenta, frequentemente, o mesmo dilema. Caso decida ater-se ao currículo a ser cumprido, é provável que torne as aulas maçantes e improdutivas. O desafio maior está sempre em encontrar o ponto de equilíbrio entre o que precisa ser ensinado e o que o aluno ama aprender. Este é um dos aspectos na profissão do professor – como também na missão do pregador – pouco valorizado. Envolve, na verdade, uma espécie de dilema interno, solitário. Curiosamente, a intensidade desta energia despendida em enclausurada reflexão é que define o profissionalismo do docente – e do pregador. Ambos se veem constantemente desafiados a escolher entre demonstrar conhecimentos ou fixar-se em explicar satisfatoriamente determinado tópico.

Demarca este aflitivo e interno debate a distinção entre o profissional compenetrado da sua nobre missão de educar e o colega que se contenta apenas em cumprir deveres. Expor matérias é relativamente fácil e cômodo. Formar, educar, ensinar é exigente. Motivar os desanimados, ajudar os retardatários e encorajar os desinteressados é tarefa compreensivelmente desgastante. Explica-se porque entre os docentes, muitos profissionais acabam estressados. Notável é que entre as profissões, a docência situa-se entre as que mais causam depressão.

Não é fácil conciliar ideal formador com apatia de aluno, especialmente em salas numerosas e heterogêneas. Estar em sala de aula todos os dias é teste de resistência emotiva, psíquica e física. E tem gente que acha que professor “só dá aula”!! Abate o profissional a falta de reconhecimento, principalmente por parte de pais, que não raramente se posicionam unilateralmente a favor dos filhos! Motivo outro este que balança o professor quanto ao ideal abraçado. Muitos, de fato, se afastam do propósito original de educar e formar na cidadania. Desistem, desiludidos pela falta de apoio por parte dos pais e pela limitada consideração demonstrada por sucessivos governos.
Além de remuneração inadequada, o professor enfrenta, recorrente, carência de infraestrutura básica para levar avante sua tarefa de ensinar.

Por amar o que fazem, e porque trabalham por um ideal que consideram sagrado, profissionais há que tiram dinheiro do próprio bolso na busca de criar condições que favoreçam o aprendizado dos alunos. Compenetrados, esses profissionais educam por vocação. Representam os mais legítimos operários na construção de uma nação saudável e prospera. Aos professores, como também aos bons pregadores, reconhecimento e gratidão!

FELIZ DIA DO PROFESSOR!
Pe. Charles, professor aposentado e pregador em atividade!

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