Ungidos são os batizados! Na Bíblia, a unção representa vocação. Unge-se a quem se destina tarefa particular. Ao ungir Davi, o profeta Samuel confirma sua vocação para liderar o povo de Deus. Evidente, o ungido por excelência é Jesus Cristo. Significativamente, a “unção” se dá logo após o nazareno receber o batismo de perdão administrado por João Batista. Na ocasião, a voz divina declara que o filho de Maria é também o Filho amado do Pai! Em reunião de sinagoga, convidado a ler e comentar um trecho bíblico, o já batizado Jesus escolhe o texto de Isaias onde se lê que o Espírito do Senhor desce sobre o servidor de Deus, o unge e o envia para realizar uma transformação radical nos costumes, libertando todos os marginalizados de suas escravidões e fazendo acontecer, ato contínuo, um ano da graça do Senhor Deus!
Sendo ungido, o batizado se reconhece escolhido para missão. Todo batizado é um enviado de Deus para marcar presença no mundo, para transformar o mundo. Para perpetuar, em suma, a obra de Jesus! Santificar representa transformar para melhor o que já existe. É a realidade própria a cada época ou a cada situação histórica que define a natureza da missão e a profundidade da transformação. Vive-se, hoje, no mundo, e em nosso país em particular, clima de intolerância acentuada. Muitas e variadas são as rivalidades.
O problema não está no divergir. Reside na incapacidade de conviver com o contrário. Espalha-se o ódio, aproveitando as facilidades oferecidas pelas várias plataformas virtuais. Emerge, com naturalidade, uma das tarefas primárias reservadas aos ungidos do nosso tempo: empenhar-se em promover digno convívio entre os divergentes. Fazer triunfar a harmonia. Estabelecer a concórdia. Promover a tolerância. Incentivar o perdão. Fazer convergir o que anda disperso. Semear caridade, em suma! Ser cristão no mundo de hoje é reconhecer-se profeta de paz!
Paz é diferente de armistício. Armistícios, normalmente, se restringem a pactos não agressivos. Situações de cessar-fogo são, compreensivelmente, sempre situações de tensão. Demandam constante vigilância e alerta desconfiança. Tréguas não garantem segurança. Tratados de cessar-fogo não permitem relaxamento. Não se pode chamar de paz situações de tensão constante e desconfiança permanente. Paz é muito mais que ausência de conflitos. É estilo de vida que repousa na integridade de cada parte. Constrói-se a paz a partir de um contínuo movimento de transformação fundamentado na caridade.
Não a caridade emotiva, acadêmica, abstrata, sujeita a leituras e interpretações. Mas a caridade evangélica que, para o crente, encontra-se encarnada na pessoa de Jesus Cristo. Inspirado nos ensinamentos de Cristo e motivado pelo exemplo de sua vida, o batizado, na condição de ungido, se enxerga chamado a aproximar pessoas, respeitando individualidades, dissipando, contudo, rivalidades. Ungidos são os discípulos para exorcismar o mundo dos demônios da intolerância e do ódio!
Ser cristão implica cultivar a consciência profética. Clama o mundo por compaixão. Almeja nosso país duradoura paz e digno convívio! Particularmente sensível a esses anseios, o ungido com o mesmo Espírito que impelia Cristo, calça sandálias, toma o cajado e parte. Reconhecer-se ungido, na atual conjuntura, significa transformar-se em decidido profeta da caridade!