Guerras são estúpidas, sempre! Compreensivelmente, quando se tenta justificar iniciativas bélicas, as motivações escancaram ainda mais a insensatez dos conflitos. A invasão russa na Ucrânia figura entre os mais absurdos desatinos de insensata prepotência, acompanhada, por óbvio, por arbitrárias e monstruosas violações dos mais básicos direitos humanos. Entre inomináveis barbaridades, figuram deportações de crianças e despóticas prisões. Recentemente, dois padres redentoristas ucranianos, Pe Geleta e Pe. Levytskyi, presos no começo da invasão, pelas forças soviéticas, foram libertados e decidiram partilhar suas experiências enquanto presos, confirmando os horrores e carregando ainda mais as abomináveis desumanidades inerentes a esses tipos de temeridades.
Relatam, primeiro, os padres, o medo e a tensão que tomaram conta da população ucraniana diante da invasão. Muitos não sabiam por onde ir nem o que fazer. Notícias de parentes mortos, casas saqueadas, pessoas deportadas aumentavam ainda mais o apavoramento. Aterrorizada, a população procurava nas igrejas abrigo físico e conforto espiritual. Logo, as forças invasoras, incomodadas com as assistências espirituais, passaram a prender as lideranças religiosas, gerando ainda mais pânico e desespero nas pessoas. Evidente estratégia de tortura psicológica visando quebrar a resistência moral dos nativos. O mesmo recurso de terror psicológico era usado com os presos. Encarcerados em celas, abarrotadas de gente, os presos eram submetidos a ouvir gritos de dor e gemidos de outros detentos, aparentemente passando por sessões de tortura, montado recurso com a clara intenção de induzir as lideranças a delatar companheiros de resistência. Confessam os religiosos que aqueles foram os dias mais difíceis. O terrível pressentimento do que pudesse vir a acontecer com suas vidas era psicologicamente apavorante. O medo da morte iminente aterrorizava os encarcerados. Por que isso? perguntavam agoniados os presos. Nós, padres, preferimos o sereno silêncio. Falar o quê em situações amedrontadoras como aquelas e ainda para gente que perdia entes queridos! A pergunta a ser feita nesses assombrados ambientes não era: Por que? Não havia resposta decente para tal indagação! A pergunta que o silêncio inspirava fazer era de outra natureza: o que Deus espera de nós em situações tenebrosas como essas? Paradoxalmente, este clima desolador favoreceu momentos de intensa e confortadora oração. Presos pediam para confessar! Outros aproximavam-se dos clérigos pela primeira vez na vida; queremos estar com Deus, suspiravam. Este insano ambiente, partilham os padres, fez com que eles próprios, assim como os demais companheiros presos, compreendessem a sublime graça de ser, e de ter, um sacerdote próximo! Os presos juntavam-se aos padres e buscavam na prece força e consolo. Fétidas celas foram, pontualmente, transformadas em espaços sagrados. Reza-se com fervor em situações de desespero! Quando bem alicerçada, a fé se robustece na provação!
O invasor percebeu a benéfica presença dos padres junto aos demais prisioneiros. Decidiu, então, isolar os religiosos em celas individuais onde eram submetidos à tortura diferente: ouvir, diariamente, canções de propaganda soviética por dezoito horas ininterruptas. Exaustos, os padres dormiam e acordavam azucrinados por hinos patrióticos. O que nos salvou, relatam, foi a persistência na oração. Mesmo nesse infernal ambiente, a alma consegue criar bolha de silêncio para poder conversar com Deus, confortar-se com a sua presença, sustentar-se no seu amor! Em Deus amparada a alma não vacila! Foram quatro meses nesta enlouquecedora tortura, antes de serem soltos e repatriados!
Confinada, a pessoa é induzida a refletir sobre a vida. Presa, a pessoa compreende a valorizar o tempo e a convencer-se que as oportunidades não podem ser desperdiçadas. Embora física e psicologicamente extenuados, confidenciam os padres que a experiência do cárcere os deixou mais fortalecidos na fé, mais convictos em sua vocação e, particularmente, mais idôneos a mirar seus conterrâneos olho no olho! Em Deus amparada, a alma não vacila!
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