Família ULMA, artigo do padre Charles Borg

Família inteira é beatificada! No último domingo, 10 de setembro, na diocese polaca de Przemysl, a famila ULMA, pai, Josef, esposa Wiktória, e sete filhos foram elevados á condição de beatos, mártires pela fé durante a Segunda Guerra. É a primeira vez na história da Igreja que uma família inteira é beatificada. Formidável exemplo! A história desta família, recentemente revelada, apresenta comovente e inspirado testemunho para todas as famílias.
Josef e Wiktória nasceram na cidade de Markowa (Polonia) onde também casaram. Tiveram sete filhos e viviam principalmente da agricultura, embora o pai, Josef, também curtisse fotografias. Era o fotógrafo da cidade. Graças a este hobby existem registros da vida simples que esta família de agricultores levava. Quando estourou a Segunda Guerra, os planos de mudar para uma cidade maior ficaram para traz e a família continuou cuidando da propriedade na cidade de Markowa. Testemunhas que conheciam a família confirmam a profunda e comprometida vida religiosa da família. Os pais participavam ativamente da vida da paróquia local. Ficou-se sabendo mais tarde, graças a um exemplar da Bíblia que havia na casa dos ULMA, que um trecho particular do Evangelho de Lucas – a parábola do Bom Samaritano – pautava a conduta religiosa da família. Ao lado do texto da parábola, que fazia referência ao bom samaritano que cuidou da vítima assaltada e ferida, alguém da família, provavelmente o pai ou a mãe – transcreveu a palavra SIM. Presume-se ter sido o exemplo do bom samaritano a inspirar a conduta heroica da família polaca.
Tanto assim, que ao conhecer a família judia dos Szalls, que fugia da fúria dos nazis, os ULMA acolheram os judeus em sua propriedade. Ao longo de dois anos, as duas famílias conviveram harmoniosamente, partilhando trabalhos, angústias, alegrias e rezas. A disparidade religiosa de forma alguma se entrepôs como empecilho para a acolhida e o subsequente convívio. Registra-se que o bom samaritano – modelo para os ULMA – em momento algum pede a identidade da vítima assaltada. Simplesmente socorre, colocando à disposição do infeliz viajante tudo o que tinha à mão. Assim fizeram os ULMA. Acolheram e deram seguro abrigo à família perseguida. Até que alguém os denunciou, aparentemente para ganhar favores dos alemães, que invadiram a propriedade e mataram friamente, primeiro, os judeus abrigados e depois o pai Josef e a mãe Wiktória diante das seis crianças. Irritado com o desespero das crianças, o oficial alemão ordenou também a execução dos filhos. Alguns dias após o massacre, os vizinhos trataram de enterrar a família no cemitério da paróquia, quando se ficou sabendo que a mãe Wiktoria estava prestes a dar à luz a sétima criança. O corpo da criança – ainda sem nome – foi encontrado junto ao corpo da mãe. Versão recente da matança dos Inocentes praticada por Herodes quando do nascimento do Menino Jesus!
Josef, o pai dos ULMA, costumava comentar com amigos: viver um dia inteiro de forma digna é bem mais exigente que escrever um livro! Pelo testemunho de sua solidariedade, a comunidade judaica mundial inclui a família ULMA, no rol dos justos. E a Igreja Católica apresenta a família como digno exemplo de acolhida, particularmente neste momento agudo quando milhares de migrantes e refugiados vagueiam em busca de abrigo, oportunidade e dignidade! Ecoando o pensamento do Papa Francisco, a mais consistente resistência à demagogia das armas continua sendo a generosa acolhida e a prática da autêntica caridade.

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