Aos irmãos Bispos do Brasil.
“Sim! Vou criar um novo céu e uma nova terra!” (Is 65,17).
Nós, 48 bispos participantes do 15º Intereclesial das CEBs, em Rondonópolis (MT), no período de 18 a 22 de julho de 2023, com o coração cheio de contentamento, partilhamos com todos vocês, amados irmãos, que não puderam estar aqui e nos acompanharam com suas orações, o que vimos e vivenciamos juntamente com cristãos leigos e leigas, religiosos e religiosas, diáconos e presbíteros, representantes de milhares de comunidades eclesiais de base que há no Brasil, pessoas de, praticamente, todas as Igrejas particulares.
Seguindo a metodologia ver, julgar e agir, o encontro aprofundou o tema: CEBs – Igreja em saída na busca da vida plena para todos e todas, e o lema: “Sim! Vou criar um novo céu e uma nova terra!” (Is 65,17).
Desde 1975, cristãos leigos e leigas membros de comunidades eclesiais de base, acompanhados de religiosos(as), diáconos, padres e bispos, encontram-se para aprofundar a fé, em meio às realidades em que vivem, à luz da Palavra de Deus, que lhes concede a força para serem testemunhas do Evangelho de Jesus Cristo na família, na Igreja e na sociedade.
Esta caminhada de tantos anos expressa adesão ao que nos pedem os documentos do Concílio Vaticano II, das Conferências de Medellin, Puebla, Santo Domingo, Aparecida e as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil. A Conferência de Aparecida reconheceu um florescimento das comunidades eclesiais de base (CEBs) no Brasil e em outros países da América Latina e do Caribe, tendo como fonte de sua espiritualidade a Palavra de Deus e, como guia que assegura a comunhão eclesial, a orientação de seus pastores.
As comunidades procuram vivenciar o seguimento a Jesus, o enviado do Pai, demonstrando “seu compromisso evangelizador e missionário entre os mais simples e afastados, tornando-se expressão visível da opção preferencial pelos pobres. O Documento de Aparecida ainda destaca que “as CEBs são fonte e semente de vários serviços e ministérios a favor da vida na sociedade e na Igreja. Mantendo-se em comunhão com seu Bispo e inserindo-se no projeto pastoral diocesano, as CEBs se convertem em um sinal de vitalidade na Igreja particular. Atuando, dessa forma, juntamente com os grupos paroquiais, associações e movimentos eclesiais, podem contribuir para revitalizar as paróquias fazendo comunidade de comunidades” (DAp, 179).
Nesses dias, em espírito de escuta, caminho sinodal e abertura ecumênica, acompanhamos, de perto, importantes partilhas e reflexões feitas por irmãos e irmãs de todas as regiões do Brasil. Valorizamos o testemunho de lideranças que, com fé e alegria, dedicam-se ao trabalho de evangelização, que tem como bases fundamentais a centralidade da pessoa de Jesus Cristo – o Verbo Encarnado e missionário do Pai, que se identifica com os pobres, com quem sofre e com todos os que vivem nas periferias -, a centralidade da Palavra e do Corpo do Senhor. As comunidades, alicerçadas nesses pilares da fé, tendo a missão como eixo fundamental que as dinamiza, celebram a vida, a ministerialidade, fazem a ligação entre fé e vida e reforçam a opção preferencial pelos pobres, revelando, por meio de ações concretas e em espírito sinodal, o amor de Deus aos irmãos e irmãs nas realidades sociais, eclesiais e culturais.
Ao lado de tantas experiências que nos encantam, percebemos também que há um certo cansaço em algumas lideranças das comunidades, talvez em razão de enfrentarem muitas dificuldades referentes ao processo evangelizador. Essas dificuldades trazem reflexos das várias eclesiologias e dos vários ambientes de nossa sociedade, quase sempre marcada pela urbanização desmedida, polarização política, pelo aumento da desigualdade, do individualismo, do preconceito e do consumismo, ocasionando assim a destruição da vida no planeta e desconsiderando a ecologia integral, como alerta o Papa Francisco.
Neste intereclesial, outros gritos se fizeram ouvir, indicando os grandes desafios presentes nas realidades urbanas, especialmente, nas periferias geográficas e sociais. Entre eles, o clamor pelo fim de todas as formas de violência contra as mulheres. Outro forte grito brota dos jovens que buscam sentido humano e cristão para sua vida e pedem maior abertura para uma presença mais significativa na vida das comunidades, visando aprimorar e assumir o sentido de pertença eclesial.
Os participantes desejam uma maior atenção à formação dos cristãos leigos e leigas, com o intuito de contribuir para que as comunidades sejam, de fato, missionárias, vivenciadoras da dinâmica sinodal e portadoras da Boa Nova, semente de um novo céu e uma nova terra (Cf. Ap 21,1). Desse modo, estão colaborando para que a sociedade seja justa, solidária, fraterna e ecologicamente sustentável. Ainda, várias vozes se levantaram para dizer da necessidade de as comunidades serem confirmadas na caminhada evangelizadora por parte de todos nós bispos e não experimentem um sentimento de “orfandade”.
O Espírito Santo nos ilumine a fim de que, em nossas Igrejas particulares, ajudemos as CEBs em seu florescimento a vivenciarem, com muito ardor, a comunhão que é missionária e a missão que é para a comunhão (Cf. CFL, 32). Maria, a Mãe Aparecida, missionária incansável, interceda por todos os que fazem parte dessa caminhada.
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